Enquadramento
O Rio Almansor nasce perto de Arraiolos e desagua no Rio Sorraia, depois de um percurso de 97 quilómetros, em que atravessa três massas de água subterrânea: Bacia do Tejo-Sado Margem Esquerda, Bacia do Tejo-Sado Indiferenciado e Maciço Antigo Indiferenciado da Bacia do Tejo.

A delimitação da massa de água do Rio Almansor abarca ainda os sítios Rede Natura 2000 de Cabrela e Monfurado, sendo que, chegado a Benavente, onde assume a designação de Ribeira de Santo Estêvão, está ainda enquadrado pelo Plano Diretor Municipal de Benavente como Área de Conservação da Natureza, constante do inventário de Sítios de Interesse Ornitológico do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.
Este Rio estabelece uma frente ribeirinha que ladeia a Sul, Este e Oeste a localidade de Montemor-o-Novo. A relação histórico-cultural com o rio é memória presente e aspiração dos habitantes, mas a falta de qualidade da água do Rio impede qualquer tentativa de reaproximação entre a água e as suas gentes.
O Almansor é obstruído a cerca de 10km da sua nascente pela Barragem dos Minutos. De acordo com a APA (ARH Tejo e Oeste), o Almansor recebe quantidades significativas de cargas poluentes, incluindo dezenas de milhares de kg/ano de cargas rejeitadas pelos sistemas urbanos de drenagem e tratamento de águas residuais, centenas milhares kg/ano de cargas de origem difusa provenientes do sector agrícola, e milhões de kg/ano provenientes do sector pecuário – um valor muito superior à média de cargas rejeitadas noutras massas de água da nossa região.

A classificação do Rio Almansor é, por estes motivos, e desde há anos sem alteração, ‘Inferior a Bom’. Relativamente à avaliação da escassez hídrica a que se encontra sujeita, a sub-bacia do Almansor apresenta um dos piores resultados de todas as massas de água superficial consideradas na região: 82%, com tendência para agravamento.
Este é um rio intermitente, ou seja, possui períodos de seca durante os meses de Verão, o que é característico dos rios mediterrânicos. Isso torna a sua conservação um desafio, principalmente acentuado pelas mudanças climáticas e aquecimento global, que intensificam os períodos de seca e comprometem o fluxo de água.
Os problemas do Rio
As árvores e a vegetação nas margens dos rios desempenham um papel fundamental na proteção do solo. As suas raízes actuam como uma rede natural que segura o solo e quando a vegetação ribeirinha é removida, o solo perde essa estabilidade natural e torna-se muito mais vulnerável à erosão.
A desflorestação das margens (e sua utilização para pastoreio), bem como dos terrenos próximos ao Rio Almansor impede o desenvolvimento saudável das galerias ripícolas, contribuindo para uma série de processos ecológicos que causam erosão, degradação do solo e intensificação dos períodos de seca. Esses efeitos são interdependentes e comprometem a saúde do ecossistema ao redor do rio, afetando a biodiversidade, a qualidade da água e o ciclo hidrológico da região.
Por seu lado, os períodos mais intensos de chuva acabam por carregar grandes quantidades de solo para dentro do rio, tornando a água mais turva e assoreando o leito. Esse processo de assoreamento eleva o leito do rio e pode alterar o curso da água, aumentando a probabilidade de cheias. No caso das nascentes, o assoreamento pode causar a diminuição da sua pressão e até a sua seca, por obstrução dos olhos de água.
DEGRADAÇÃO DO SOLO
A cobertura vegetal desempenha um papel essencial na proteção e manutenção da saúde do solo. As plantas, especialmente árvores e arbustos, contribuem para a estabilidade física, química e biológica do solo, criando um ambiente que favorece a retenção de nutrientes, a infiltração da água e a sustentação de uma comunidade microbiológica rica e diversificada. Este processo é essencial para a recarga dos lençóis freáticos, que, por sua vez, alimentam o rio e outros cursos de água subterrânea durante períodos secos.
Quando a vegetação é removida das margens e dos terrenos próximos do rio, surgem efeitos degradantes que impactam diretamente a estrutura e a fertilidade do solo.
AUMENTO DA TEMPERATURA
A vegetação ribeirinha tem também um importante papel no microclima local, ajudando a regular as temperaturas e a reduzir a evaporação. As copas das árvores e arbustos criam sombras ao longo das margens, protegendo o solo e a água do rio da exposição direta ao sol. Isso contribui para a manutenção de temperaturas mais baixas e, consequentemente, para uma menor taxa de evaporação.
Sem essa cobertura vegetal, o solo e a água do rio são diretamente expostos ao sol, resultando em temperaturas mais altas e numa evaporação acelerada. Esse aumento da perda de água para a atmosfera agrava a seca e compromete a disponibilidade hídrica para as comunidades e ecossistemas que dependem do rio.
IMPACTOS NA BIODIVERSIDADE
A vegetação nas margens dos rios é um habitat essencial para espécies de fauna e flora. Ao perder estas áreas verdes, as espécies que dependem deste ecossistema para se alimentar, reproduzir e proteger perdem seu habitat natural. A vegetação ribeirinha proporciona abrigo para aves, insetos e pequenos mamíferos, e as suas raízes criam refúgios para peixes e invertebrados aquáticos, além de auxiliar na oxigenação e filtragem da água. Com a desflorestação, a perda de habitats leva a uma diminuição da biodiversidade, o que impacta diretamente o ecossistema, já que a falta de polinizadores, predadores naturais e espécies que mantêm o equilíbrio ecológico pode resultar em sobrepopulação de pragas, degradação da qualidade da água e colapso de cadeias alimentares.
A CONTAMINAÇÃO DO RIO E LENÇÓIS FREÁTICOS

Poluição no Rio Almansor – 2015
O uso intensivo das águas para a agricultura e suinicultura, bem como o escoamento de resíduos não tratados colocam pressão sobre o rio e a sua biodiversidade. As práticas de monocultura e uso excessivo de agrotóxicos nas proximidades têm contribuído para a degradação ambiental da bacia do Almansor e para a contaminação da água que, de acordo com as análises de água de vários moradores ao longo do Almansor, se encontram com níveis elevados de:
- Coliformes Fecais e Patógenos: Estes microrganismos representam um risco para a saúde pública, podendo causar doenças gastrointestinais, infecções de pele e outras doenças.
- Nutrientes em Excesso (Nitrogênio e Fósforo): Os esgotos contêm quantidades elevadas de nitrogênio e fósforo, que favorecem o crescimento de algas e cianobactérias, levando à eutrofização, prejudicando a vida aquática e podendo levar à morte de peixes e outros organismos aquáticos.
- Produtos Químicos de Uso Doméstico: Produtos de limpeza, detergentes e medicamentos descartados nos esgotos contêm compostos químicos como fosfatos, amoníaco e substâncias antibacterianas que, em concentrações elevadas, são prejudiciais à fauna e flora aquáticas.
- Resíduos de Plásticos e Microplásticos: A agricultura intensiva também utiliza plásticos na forma de coberturas de solo, estufas e embalagens. Estes materiais são frequentemente descartados de forma inadequada e decompõem-se em microplásticos, que chegam aos cursos d’água e afetam diretamente a fauna aquática.
A combinação do escorrimento de esgotos (provenientes de habitação e indústria) e produtos químicos agrícolas representa uma grave ameaça ao Rio Almansor e aos ecossistemas adjacentes (como referido em Biomonitorização da qualidade das águas superficiais nas Ribeiras de Monfurado, Carla Gonzalez e Cristina Branquinho – Centro de Ecologia e Biologia Vegetal da FCUL). A contaminação altera drasticamente a qualidade da água, reduz a biodiversidade e impacta diretamente a saúde pública e a sustentabilidade das atividades económicas locais, como a agricultura e o turismo.

Por isso, medidas de controlo e tratamento de esgotos, práticas agrícolas sustentáveis e a monitorização da qualidade da água são essenciais para garantir a recuperação e conservação do rio.